quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Julgamento sem fatos




O desumano julgamento


encarcerou minh'alma


no abismo da dor.


Reprimi minha imagem,


para desconhecido oculto,


mas sofri a solidão


de ser honesto


sem ser crido.


Toda indagação que me fazem


vem em tom acusativo.


Se respondo ou não


o inquisidor me tem por culpado.


Meus atos traem minhas intenções


Sou honesto, mas descrido.


Não penso em viver


para agradar.


Mas não me agrada o


ostracismo.


Ao menos um...


Ao menos você, creia:


sou sincero.


Mas não sei demonstrar


isto, sem ferir ou ser ferido.


sábado, 25 de outubro de 2008

Memória de além túmulo


Fui...
Agora não existo.
Sorri, brinquei, bebi, chorei,
corri, parei, sofri, aprendi, voei,
venci, perdi, ganhei, amei,
comprei, vendi, subi, desci,
nasci, morri.
Agora, despejado estou em cova de um cemitério.
Uma lápide, mal cuidada, marca meu endereço.
Um mármore frio cobre meu corpo inerte e putrefeito.
Meus sonhos estão no passado.
Mas sempre estiveram no futuro.
Debati, briguei, discuti, odiei.
Mas a tristeza restou apenas aos que ficam, e que me amaram.
Os que não me conheceram, nunca conhecerão.
Os que me ama, aos poucos me esquecerão.
Só fragmentos, do que representei, visitarão seus pensamentos.
Em "flashes" rápidos e inexos.
Sobrei ter vivido, mas não sou inesquecível.
Não me tornei um ícone, sequer um nome importante.
Da sina de todo ser vivente, também participei.
E a quem ler este monólogo,
não tente me conhecer.
Basta saber que um dia também seguirás meu destino.
A meu lado ainda há vagas.
Espero que deixes mais pessoas te amando.
Pois este é o único arrependimento que tenho:
não conquistei muita gente.
E os poucos que me amaram,
não o fez por esforço meu.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Violência

A violência tem dois lados: autor e vítima. Mas uma só causa: falta de amor.
Bem diz o velho ditado: quem apanha nunca esquece.
Esperar resolver da noite para o dia a violência é ser inocente. Pois a sociedade não é homogênia. Machado de Assis até fez um conto "A igreja do diabo", versando sobre a inconstância do ato de ser mal.
As circunstâncias têm papel preponderante na escolha do caminho maniqueísta: bem/mal.
A melhor saída é melhorar a cultura da bondade, fidelidade, carinho, amor, apresso e, enfim, respeito pelo próximo.
Perdoar é indispensável para quebrar o fio. Pois a vingança é um vírus que se propaga.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Pobreza

Há três aspectos sobre a miséria que merece comentário: político, histórico e cultural.

Do pontos de vista político, a constituição brasileira de 1988, prevê a erradicação da pobreza em seu Título I “dos Princípios Fundamentais”, Art. 3º inciso III: erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais.

Diversas leis foram propostas e outras tantas aprovadas. Leis que prevêem sistemas de cotas, auxílio às famílias carentes, isenção de taxas em concursos, subsídio à sesta básica, doação de lotes, financiamento de imóveis mais acessível, entre outros.

A História deixa claro que qualquer pessoa pode enriquecer ou empobrecer da noite para o dia. Catástrofes, reviravoltas, guerras, jogos, coincidências e outros eventos possibilitam este fenômeno da mudança de condição. Portanto ninguém pode considerar-se à salvo da miséria ou inacessível à fortuna.

Resta então considerar o que pode ser mudado acerca da miséria do ponto de vista cultural. Neste particular é importante compreender que há dois tipos de miséria: a involuntária e a voluntária.

A involuntária, em grande parte, é causada por calamidades naturais, guerras, ou políticas racistas. O indivíduo pouco pode fazer sem ajuda de terceiros.

A voluntária, por outro lado, é conseqüência de uma cultura de miséria. A pessoa se vê as voltas com uma estima baixa ou uma visão de mundo tacanha. E aqui não se deve considerar a fortuna, mas tão somente uma dignidade de vida, bens e posição social. O mínimo para que a pessoa viva confortavelmente e com segurança. Possa alimentar-se, vestir-se, morar, trabalhar e acessar todos os direitos legais.

Quanto à miséria voluntária, a consciência determina até onde alguém consegue chegar. Já presenciei pessoas “vencendo” na vida e pessoas que “fracassaram”. Quantos amigos e vizinhos não alcançaram uma posição social de respeito? Tornaram-se empresários, funcionários públicos com salários dignos, ou funcionários de grandes corporações. Por outro lado tenho conhecidos que sobrevivem em condições precárias.

Mudar a visão de mundo, no que tange a miséria voluntária, é inquestionável. O indivíduo precisa compreender a necessidade de construir a própria dignidade. Todos têm que enfrentar obstáculos, a diferença está na determinação, na meta, no esforço. Acomodação, lamentação, e busca de culpados não muda nenhuma situação. Se todas as pessoas esforçassem-se por melhorar sua condição econômica e social a sociedade melhoraria. Não digo a miséria seria eliminada, pois vários fatores interferentes se manifestam. Contudo, uma escalada rumo a uma sociedade mais homogênea estaria estabelecida.

O desemprego, por exemplo, choca-se com a desqualificação e as políticas governamentais de geração de novos postos de trabalho.

O consumismo sem responsabilidade, incentivado pela mídia, cria pessoas endividadas e sem controle que gastos.

A busca pela inclusão gera pessoas frustradas ou desonestas. E umas poucas que atingem honestamente esta meta.

Refletir sobre a pobreza dos “outros” é cômodo, o difícil e avaliar o risco que corremos com nossas escolhas ou falta destas.