quinta-feira, 31 de julho de 2008

Mulher bruxa bonita


Há muito... muito tempo, existiu uma cidade na Inglaterra chamada Gleikis.
Nesta cidade, morava um rei muito rico e sua rainha. Eles tiveram uma linda princesa, mas ao dar a luz, a rainha morreu.
Com o passar do tempo a princesinha foi ficando cada vez mais gordinha. Começou a agir estanho, porque achava que era uma vaca e vivia no pasto junto ao rebanho bolvino. O rei, cada dia que passava, sabia ler menos ainda, até que não sabia mais ler.
Certo dia chegou a cidade uma mulher muito feia. Por onde ela passava todos da cidade riam dela e a chamavam de bruxa.
Ela sempre andava com uma formiga na mão, era seu bicho de estimação.
A mulher foi ficando com raiva daquele povo e se tornou uma terrível bruxa. Mas seus poderes não funcionavam, pois ela era muito desastrada. Então, ela decidiu uma coisa: que iria passar todos os seus podres e magicas para sua formiga de estimação. E isto fez.
Então, viajou com sua formiga para outro povoado bem distante. Lá, foi encontrar um dragão que diziam ser muito poderoso. Ao chegar a caverna teve uma surpresa: câmeras e câmeras, o bicho estava gravando uma novela.
A bruxa disse:
— Cadê o dragão poderoso?
— Eu? Poderoso? Eu não! Eu quero ser é ator de novela!
Ela não demorou um minuto a mais na caverna. Foi logo para casa, pensando pelo caminho:
— Eu não tenho poderes, mas minha formiga tem! Vou fazer minha formiga me tornar bonita e ninguém vai me chamar de bruxa.
E toda a cidade admirava e invejava a linda mulher que chegara, sem perceber que era a mesma que vituperaram em outras circunstâncias.


Elisama

O segredo do feitiço


Num belo dia, uma bruxa desastrada subiu a um muro muito alto. Ela não sabia que em cima do muro havia uma formiga ilusionista que se transformava em dragão. Ao ver a formiguinha disse:
— Nossa! Uma formiga, era o que eu precisava para minha receita.
Mas uma coisa aconteceu, a formiga transformou-se em um dragão e falou:
— Você não vai sair daqui viva!
— Sou uma bruxa e faço o que você quiser, tudinho é só pedir.
— Eu quero ser ator de novela.
— Ora, isto é fácil, só precisa me deixar passar. Do lado de lá existe uma princesa que pensa que é uma vaca. Foi um feitiço feito por alguém mau. Se eu desfizer o feitiço o rei será grato e me concederá um desejo...
— Não posso fazer isto, sou do bem, e o rei que não sabe ler é meu amigo e pai da princesa.
— Mas eu sei como tirar o feitiço da princesa.
A bruxa sentiu que seria seu fim. Precisava convencer o dragão. Mas, desastrada como era, acabaria dizendo algo errado.
O dragão percebendo o desconcerto da feiticeira disse:
— Fale como posso desfazer o feitiço ou te prendo num lugar onde nenhuma magia funciona.
— Tudo bem! Vou falar. Mas se afaste que seu bafo de fumaça está impregnando minha roupa.
—FAAAAALEE LOGO!
— Você precisa pedir ao rei que leia o feitiço que esta escrito neste papel.
Estendeu a mão e entregou um papel encardido e com aparência de antigo.
O dragão ficou indignado e se voltou para a bruxa:
— O rei não sabe ler será impossível ler o que está escrito no papel. Vou te prender!
A bruxa percebeu o vacilo que deu. Ela mesma cuidara para que o rei nunca aprendesse a ler, pois sabia que seus feitiços sempre eram desfeitos se a parte interessada os lesse. Mas não poderia se entregar sem luta, e disse:
— Espere! Como pode saber que ele não irá conseguir? Você ainda não tentou?
E o dragão chamou o rei e lhe disse:
— Se Vossa Majestade ler o que está escrito neste pedaço de papel sua filha voltará a ser humana.
E, para a surpresa de todos, o rei leu. Imediatamente a princesa virou gente.
O dragão, intrigado, perguntou:
— Como pode ser isto?
— A princesa, minha filha, foi que me ensinou a ler, para que eu lesse contos de fada para ela enquanto pastava.
A dragão consegui uma vaga em uma novela do reino e a bruxa deixou o ramo de bruxarias e resolveu ser jardineira real. E todos viveram felizes para sempre... Será?

Vanessa

Com a venda nos olhos




“A alma generosa prosperará, e quem dá a beber será dessedentado..”
Pv. 11:25.


I
Da calçada alguém olhou a cena estático. Um homem de seus quarenta com um balde à mão retirando afoito água de um barco.
Tudo acontecia ali, ante os olhos curiosos de muitos transeuntes, que paravam em frente ao museu.
O barco estava dentro de uma piscina no centro daquele modesto Museu da história da Humanidade.
Havia, no fundo do barco, um orifício com tampa. Tirando a tampa, a água começava a entrar, quando já tinha água suficiente para encher dois ou três baldes o homem tampava o orifício, e punha-se a esvaziar o barco.
Assim ficou o dia todo.
Os funcionários do museu nada fizeram para impedir. A ninguém fazia mal. Talvez, descarregasse tensões da vida diária.
As portas se abriam e fechavam. Muitas pessoas adentravam os salões daquele edifício no centro da cidade.
O homem parecia cansado, mas não se dava por satisfeito.
Tampa. Água, tampa, balde, tampa.
Roupas molhadas, expressão de cansaço.
O barco se movendo sobre a piscina.
Todos se perguntando: O que faz este homem? Qual o seu objetivo? O que significa isso? Estará louco?
A tarde chegou e em seguida a noite. O homem foi expulso do Museu.
Luta de um dia inteiro. Em seus olhos um mistério. Em que pensava?
Balde à mão, foi descendo a rua principal. Chegou a uma casa pequena na periferia da cidade.
Um mato ralo e rasteiro cobria a frente da casa, que tinha um aspecto colonial. O portão rangeu ao ser aberto. Som de pássaros, som de veículos, início da noite.
Abriu a porta bem devagar. Estava exausto e com fome. Nada comeu. Deitou-se, dormiu.

II
Sonhou que um ser desconhecido e majestoso, dizia-lhe: “proponho-te um enigma: o que em vastidão cobre a terra, tem poder de vida e morte, mas nem por isso é um ser vivo, racional?” Veio-lhe ao pensamento “Será que estou vivo? O que vejo não parece racional”. E viu cenas de sua vida. E momentos de descontração. E alegria. E emoções intensa. E Uma voz lhe perguntou: “você nega que sentiu tudo isso? Então, por que em momentos de calamidade a vida te parece ruim? Você se ria nos bons momentos sem se preocupar com o mal que te poderia sobrevir.”
O ser traçava comentários acerca do imediatismo do homem e como só se importava com o agora. “O futuro não pode mudar as atitudes do presente. Uma pessoa se arrepende do passado, mas no agora não pensa que conseqüências terá suas ações. Não que não tenha consciência disso, antes porque busca o caminho mais fácil...”
E, ainda no sonho, um mar se abriu. E pessoas morriam afogadas. Ele nada podia fazer, e se frustou.
A seguir, viu-se em um deserto, sentiu sede.
Se surpreendeu ao ver água cristalina jorrar de uma pedra. O vislumbre se apossou de sua alma. Quando foi bebê-la se lembrou do enigma.
Rápido outra cena se sucedeu. Estava em um corredor e muitas portas se abriam.
Contemplava as belezas de tudo o que se encontrava do outro lado. Achava não estar pronto para entrar, e a porta se fechava. Daí a pouco outra porta se abria. O mesmo se repetia. Até que uma porta se abriu mostrando tortura e muita miséria. Ele se pôs a entrar. “Eu os vou ajuda a saírem dessa miséria.”
Obstruindo a porta não os deixava acessar a galeria, e isso os impedia de poderem escolher...
Não os pôde ajudar, o que precisavam estava naquele corredor.

III
A noite estava escura.
O vento fazia barulho ao passar pelos galhos secos de uma árvore próxima a janela. Convidava todos os seres vivos a se agasalharem e se refugiarem em suas casas.
Noite com promessa de frio.
Folhas caíam.
O silêncio só cedia ao som de insetos... corujas... cães.
O balde descansava, ainda molhado, abaixo de um quadro. Um caminho que morria entre as montanhas era a cena dele.
Sobre uma mesa um copo d’água, cheio até a metade.

Boneca de Barro


Seu tempo gastava em três coisas. A olaria, que recebera de um primo, já falecido. Os livros, que sempre comprava e em cuja companhia amava estar. E por último a marcenaria, esta seu ganha-pão. Todos o conheciam por seu trabalho em madeira, artesanal e caro. A fortuna lhe sorriu na vida, mas não lhe arrebatou o coração. Uma coisa, contudo, o incomodava, estava só. Só de uma viuvez opressiva. Dez longos anos de noites indefinidas e dias entorpecidos na labuta.
Uma imagem fixou-se em sua mente e o perseguia, uma formosa moça que vira na praça central. Guardou em seu coração: os gesto, o perfume, o olhar, as veste; e os movimentos graciosos da cabeça, dos braços, do andar. Tomado de reflexões esquisitas, se via como o possuidor de toda aquela beleza. Se imaginava tocando-a, beijando-a e assumindo o papel de homem.
"O pensamento gera palavras, as palavras geram ações e as ações denunciam as intenções". Após ler esta frase em um livro, concluiu que seria perigoso se entregar a um desejo como aquele. "É melhor fazer uma coisa... que apenas sonhar" — -refletia. Era tímido, buscava coragem para abordá-la. Mas a coragem não veio. Veio o sentimento de querer e não ter. Sentimento de exclusão, solidão, precisão e impotência.
Para qualquer outro homem, todas estas conjecturas são banais e absurda, para ele não. E a razão estava em que a ordem e a ética se uniam para brigar com a conduta, que contraditória, se não cruel, imbuída estava de certa perversidade.
Será que amava a desconhecida? Quanto mais pensava nisto, mais forte era o sentimento. Necessitava da idéia que fazia da moça. Era para a sociedade. Imaginava-se sendo observado ao lado dela. Com todos vendo o quanto ela era bonita. Em seus pensamentos ela era um troféu, que ele precisava ter. Sua mente cismou com tal pensamento, como pode? um homem, como ele, ser feliz enlaçado a dotes de estranha pessoa?
Sem misericórdia da circunstância, frustou-se no recôndito de sua casa, passado, distraído, a escrever. Compôs uma história. Nela a moça era tomada sem reservas, era possuída por direito de criação. Pesou-lhe a ética, e a caneta, já trêmula, parou. Aquilo não lhe parecia certo — a balança da reflexão. Com um embrulho descuidado cestou o conto. Em nome dos grandes momentos, que teve na vida afetiva, e para não mais martirizar o coração se pôs a ocupar as mãos. Tenho o que preciso, o que me falta? quem sabe, o tempo e as circunstâncias trarão. Pena desejarmos o que não podemos ou não devemos ter! — conjecturou.
Mas o medo de perder a oportunidade o angustiava. Uma força, sem senhor, inflou-lhe o peito. Vinha trazendo a um braço a curiosidade, a outro a necessidade, que, ao colo, sustentava, assentado, o desejo. Do barro surge uma miniatura de mulher, em tudo formosa, tal qual a cobiçada da tarde que lhe consumiu algumas horas. Era já noite, a fome resmungava a um canto da sala, segurando ao chão um cãozinho de olhos esbugalhados e corpo de finos contornos.
Apreciou, quis, rejeitou, refletiu, ponderou, chão com ela; e eram só cacos as horas que se passaram. Aquele procedimento lhe era estranho, tão estranho quanto o sentimento, que se recusava a ceder a seu domínio.
No dia seguinte, recolheu da lixeira os escritos proibidos. Os reavaliou. Depois de horas gastas em reformulá-los, um arrependimento. Tempo perdido? A tarefa árdua pareceu-lhe sem sentido, contudo ficara viciado e sempre queria mais. Rasgava, colava, queimava, refazia; tinha pesar, gosto, felicidade, tristeza, dúvida, desejo. Tinha loucura! Em sua mente buscava imaginar quem não se deixava afetar por tal sentimento, em sua opinião, um incoerente sentimento.
Ora lembrava-se da jovem com desejo, chegando mesmo a moldá-la com traços mais lindos, mais perfeitos, ora imaginava-a como seria ao envelhecer, ou se alguma doença a atingisse. Aquilo o torturava. Se ela era uma imagem bonita, causava-lhe desespero — por que não a abordei?—, se decrépita, aborrecimento — como posso ser feliz se não aceito a ação da natureza e do tempo na pessoa que amo? Lembrava-se de sua ex-esposa, vítima dessa mesma natureza.
Mergulhou no infindo mundo das reflexões. Foi engolido pelas palavras, até o ponto de elas não mais fazerem sentido. A vida lhe era pesada. Naquele momento os valores estavam sendo repensados. Tudo o que ele viveu cobrava espaço nos pensamentos. Precisava das fantasias para conter o ímpeto profundo da paixão, mas elas faziam com que aquilo crescesse, e trouxesse à tona o teor da vida. É como se ele tivesse caído em uma cisterna. Não se machucou na queda, mas não encontrava ninguém que pudesse tirá-lo de lá. Tudo era uma questão de tempo, só não sabia quanto e se ele agüentaria a espera.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Aedos



“O ímpio com a boca destrói o próximo, mas os justos são libertados pelo conhecimento.”
Pv. 11:9.
“No íntimo de um homem as coisas simples são a sabedoria do universo.”
Norberto Hummus Eratis

Numa manhã de Primavera, em meu jardim florido de cores múltiplas, assomou-se à terra e à areia do fundo do quintal uma tão prevalecente nuvem negra como nunca se viu. Tinha o aspecto do papel celofane amassado, e cintilava em textura de mármore brilhante grafite. Seu tamanho não excedia ao da copa de uma árvore de pequeno porte.
Era imagem nítida, mas insistente. Embora semelhante à fumaça não se movia como tal, e com instrumento humano não se podia tocá-la. Pairava por sobre a grama rasteira e as pequenas ervas floridas. Contrastava com o vermelho lúcido de minha rosa no roseiral.
Seu espaço de domínio parecia estar consagrado. Sossego não tive por aquela tarde. Toda empreitada era inútil como convencer uma pedra a sair do caminho.
Aquela coisa não se incomodava com meu desânimo, sequer com minha necessidade de trégua. Quanto mais eu resistia mais ela se firmava.
Os vizinhos olhavam-me já com estranheza e não havia quem, de mim, tirasse seu julgamento. Sentenciavam ser eu o culpado.
Pensei comigo: será que acaso sou o único que sofro com tal suplício?
E ouvia todos repetindo com desdém: Ira, sucumbiu a Ira.
Não eram as minhas noites, nem ainda os dias que se sucederam. Se apartara de mim a quietude.
Uma força impiedosa consumia minha virtude, meu pouco prazer dos dias.
A comida já estava distante de minha boca, como também o riso. Dos meus ouvidos o som escoou e ante meus olhos restou a inabalável imagem escura, que refletia, com lances, os raios do sol.
Murcharam-se por fim as flores. A luz se deslocou do outrora vasto cultivo de belos arbustos.
Sem conforto, sem alegria, sem gosto, invadi o lúgubre espaço da vaidade que me restara. O esvaziei, até que sumiu o encantamento de olhar e restou a saudade de um tempo ido, relutante de voltar.
Fragilizado, ignorei as provocações e fugi de me prestar à irritação.
Em vista de tudo que me acontecia, percebi que minha imagem no espelho era reveladora. Os outros nos vêem diferente da imagem que temos de nós mesmos. Deixamos a vigilância dos que nos cercam ser o limite do que podemos fazer.
Ignorar, ignorar as provocações! Dizia minha alma que doía apertado e enchendo como um balão.
Construí uma escada de concreto. Seu topo estava acima das casas e o último degrau se encerrava em uma parede, subi até ele.
Ficando distante daquela monstruosidade enegrecida pude vê-la se dissipar. Omissa a qualquer esperança de mudar, a resistência caiu. Ela foi sumindo com o tempo, sem deixar marcas em mim. Secou-se como galho de árvore.
Seguindo o curso normal da natureza: maturou, decrepitou, tornou-se em outra-qualquer-coisa.
Surgiu então um sentimento em mim. Acima daquela parede os degraus continuariam. Ninguém podia ver isso, mas eu cria e uma esperança se formou no mais profundo do meu íntimo. Eu nunca poderia ultrapassar a parede e atingir o degrau acima dela. Entretanto, fazia uma idéia do que encontraria, e era maravilhosa. A idéia acalentou uma busca que acabou no crepúsculo da eterna caminhança.
Como o tecer de uma teia de aranha, vi se formar diante de mim a nitidez de sonhos-delírios gostosos, conformados e sabedores de minhas regras. Eu era dono de meu território.
Meu quintal era todo um outro mundo, que, sem reservas, as pessoas buscavam ver. E cessou a tanta má impressão que me tinham.

A íris


O carro estava parado sobre um gramado verde. Terceira vez naquela semana que empacava sem motivo aparente.
A linda jovem o deixou. A roda traseira esquerda afundada na grama.
Um rapaz de boa aparência a buscava com os olhos, da sacada de uma casa.
A jovem o notou. Povoou-lhe os pensamentos, dela, uma idéia perdida que a tanto procurava.
Portava o jovem um sério observar. Respeitoso e sincero.
Entreolharam-se. Um Mistério foi tomando os minutos da troca de olhar. E as almas foram se acomodando naquele gostoso do momento. As chaves estavam quietas na mão da motorista. Um vento agitava a roupa do observador na sacada. Os dois se perguntavam, sem querer resposta, acerca do que o outro estaria pensando. Não queriam se largar daquele olhar.
Aquele jogo foi sendo dominado pelo Mistério, que melhorava até o aspecto físico do dois. A moça não notava que o rapaz não tinha Sempre, e o rapaz não notava que a moça estava coberta de Algum Dia.
O Mistério é sábio, torna as coisas mais agradáveis.
O estranho até desceu da sacada e propôs-se a ajudá-la. Abriu o capô do carro. Logo notou que o motor estava sem uma peça. Quis a jovem saber que peça era. Enigma, foi a resposta. A garota nunca ouvira falar no tal mecanismo. “Para que serviria?” — se perguntava — “Não importa”. O que importava era o carro andando.
Dispôs-se o rapaz a acompanhá-la na busca do Enigma.
Na Autopeça o vendedor estranhou, olhou o rapaz que a acompanhava e se riu ironicamente...
A moça ficou intrigada e lançou um olhar ao rapaz que a acompanhava.
Ele se volta para o vendedor e diz: então, tem?
O vendedor para a moça: moça, não me leve a mal, mas esta peça... olha novamente para o rapaz, esta peça não se desgasta, nunca se acaba. O carro pode se acabar, ir para o ferro velho, mas essa peça nunca se acabará. Como você me diz... sumiu. Sem mais nem menos?
A moça rebateu à pergunta dizendo: é um Enigma, só isso. Agora traz que estou precisando.
A dita peça, moça, não se vende. Caso, e tão somente caso, seja necessário repará-la, retificá-la, é preciso derramar a Alma.
Moça e rapaz levaram para bem junto do carro a Alma, cada qual sua respectiva.
Derramada que foi a Alma da moça, mostrou-se insuficiente, precisou também o rapaz usar de sua, na medida de suficiente.
O carro voltou a funcionar, era mesmo o Enigma que estava faltando.
Caiu um mistério entre o estranho e a motorista. Ela o recolheu para si, observando a reação do rapaz. Os dois ficaram sem palavras. Se queriam e não se podiam.
Subia como névoa um esquisito no ar. Do tipo que silencia as atitudes e desestimula o tomar coragem.
No retrovisor, o estranho-prestativo diminuía no passado da distância que o carro percorria rumo à casa da garota. Isso era o que se via pelo espelho. Assim, também pelo retrovisor da alma, as pessoas que hoje nos ajudam vão diminuindo na memória, até sumirem. Era o máximo que um poderia ser do outro: lembrança-agradecida-ao-longe.
O Mistério não pode dar vida, mas pode mudá-la, para que quando os homens cheguem à razão de suas existências, sintam a inexa desconfiança de ainda terem algo oculto a seus sentidos.

Moça e Rapaz se queriam. Não tinham ousadia para satisfazer esta precisão um do outro. Não a tinha na pratica, mas quantas vezes não fantasiaram encontros em suas mentes. Encontros que acabavam num “deixa pra lá”.
Nem a motorista poderia se lembrar: que peça quebrara em seu carro. Mesmo assim, não esqueceu que alguém a ajudou. Quem? Alguém que podia tomar posse do seu coração dela. Coisa que só não aconteceu porque seria o fim do Mistério. O encantamento se desfaria em momentos de convívio cotidiano. Encontro que miserifica as pessoas. Quem sabe? Melhor era conformarem-se com o não tido.
Restou assim uma vontade de se ter entre rapaz e moça. A vontade era prisioneira de uma imensidão de esquecimento que dá esperanças de encontrar alguém. Alguém que na verdade já havia sido encontrado, no passado. A precisão um do outro não é satisfeita no eterno do tempo.
O episódio perseguiu a moça pelo resto da vida. Quem era? O que sentia por ela? O que aconteceria se ficassem juntos? ...o Mistério era tudo o que poderiam ter.

domingo, 27 de julho de 2008

escrever

Sempre amei os contos infantis. Com o tempo, passei a amar a literatura como um todo. Evitei criar preconceitos sobre este ou aquele escritor. Mas o que esteve povoando meus sonhos, acima de tudo, era a vontade de: escrever uma destas encantadoras história, ser lido, admirado, aplaudido e reconhecido por contribuir com algo criativo e saboroso de se ler.
Resolvi fazer uso de um weblog com o fim de tornar minha produção literária conhecida e disponível para quem a possa apreciar e divulgar.
Postarei doravante algumas pequenas história ou contos. Que tenho escrito ao logo dos anos de leitor/escritor. Uma ficção que leva o leitor a repensar suas crenças e escolhas, ante os inumeráveis eventos da vida.
Espero que os leitores apreciem e divulguem os textos aqui postados.
Agradecido pela visita, leia mais esta....