sábado, 2 de agosto de 2008

A preciosa menina


Os pais da menina saíram com ela para o hospital. A vovó estava dodói, pareceu muito sério.
Lá na emergência não entrava crianças. Só se o paciente estivesse às portas da morte.
A babá levou a menina para o pátio do hospital.
Todos os enfermos, que tomavam sol, estavam tristes. A menina não gostou deles. “Quem eram?” Não sabia, não importava.
A menina desgostou de toda a grama enferrujada que viu. Não existia animais nem flores.
A menina recolheu Deus do Céu. E lançou sobre o mato quase morto. E Deus riu, e a grama floresceu, explodindo como fogos-de-artifício, em tons: azuis, vermelhos, rosas, brancos, amarelos, infinitos, eternos... Deus viu que aquilo era bom.
Os pacientes ficaram estáticos, olhando sem compreender. O silêncio era tudo.
E a menina sentiu falta de um coelho, e de um cachorro, e de um pássaro, e de um..., e de um..., e de um... E recolheu Deus das flores, que continuaram flores, e lançou sobre a lesmas, e o tatu-bola, e o gafanhoto, e a minhoca, e a mosca. E foi que apareceu muitos animais bonitos e carinhosos, que emprestaram alegria aos olhos dos doentes que estavam a volta.
E a preciosa menina avistou um antigo parquinho. Brinquedos enferrujados, areia suja e dura. A menina não o quis assim, recolheu Deus do olhar dos pacientes e lançou no parque. A areia ficou branca como a neve e os metais coloridos e bonitos como que fossem novos. As crianças enfermas correram para os brinquedos.
E a menina encasquetou de brincar que estava na praia.
Alguém falou:
— Menina pequena, isto não é praia e só o parquinho do hospital.
Sem ligar para o que ouvia, recolheu Deus da areia e lançou no vasto terreno baldio, aos fundos do hospital. E surgiu um pequeno lago, muito bonito. Alguns pássaros, que voavam ali perto, descendo pousaram sobre as águas e mergulharam a cabeça. Foi que os pacientes viram que a água era límpida e ao fundo tinha areia, cascalho e cristais. Semelhante a fundo de aquário. Também viram peixes coloridos nadando. Parecia uma festa.
Um senhor barbudo se virou para a menina e disse:
—Sai daqui, garota pequena que nos perturba. Deixe que morramos em paz. Sem saber da beleza que existe. Porque, a quem morre, dói o coração saber que existe beleza que não vai apreciar.
A menina ficou furiosa. Recolheu Deus de tudo e lançou nos corpos dos pacientes. E todos ficaram curados. Alguns choravam, outros riam. Uns duvidavam procurando a doença. Outros corriam, queriam voltar para suas famílias.
Então era o fim. O médico informou que a vó descansaria em alguns minuto, descanso eterno. Os pais recolheram a menina do pátio e puseram diante da vó.
A doce velhinha sentia dores, mas pôde ver a criança. Viu que a garota tinha recolhido Deus para si. Se acomodou melhor e sorriu.
A garota lançou Deus na vó e um alívio completo se apoderou da idosa. A vó agradeceu e suspirou.
Deus recolheu a vó do leito e lançou no Paraíso. E o Paraíso ficou mais alegre. O número de glórias e aleluias aumentaram. Todos queriam se aproximar da menina que chegara ao Lugar de Descanso. E a vó ficou feliz de saber que quem tinha coração de criança, no Céu voltava a ter forma de criança.
A menina e os pais voltaram para casa. Ela estava cansada e dormiu. Sonhou que Deus sorria. E recolheu o sorriso de Deus para si.

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